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Crianças Neurodivergentes e Comportamentos em Crise: Estratégias para um Manejo Respeitoso e Seguro no Ambiente Escolar

  • Foto do escritor: Espaço Psiquismo
    Espaço Psiquismo
  • 2 de jul.
  • 4 min de leitura

crianças neurodivergentes

O ambiente escolar é um espaço essencial de convivência, aprendizado e construção de vínculos. Quando acolhe crianças neurodivergentes com respeito, sensibilidade e preparo, a escola fortalece a cultura da inclusão e do cuidado, prevenindo danos emocionais e físicos.

Para isso, é fundamental que a equipe pedagógica compreenda as manifestações comportamentais dessas crianças, sobretudo em momentos de crise, e desenvolva estratégias respeitosas e eficazes de manejo.


O que está por trás do comportamento?

Um primeiro passo importante é compreender o que significa comportamento funcional e sua relação com a regulação emocional. Todo comportamento tem uma função, mesmo que essa intenção não seja clara à primeira vista.

Uma criança que grita pode estar tentando evitar uma tarefa frustrante; outra que bate pode estar buscando atenção ou tentando expressar uma frustração profunda; já uma criança que se cala ou se deita no chão pode estar lidando com uma sobrecarga emocional ou sensorial.

Assim, mesmo os comportamentos mais desorganizados devem ser compreendidos como tentativas de adaptação a um ambiente percebido como ameaçador ou imprevisível.


Estímulos, sistema nervoso e crises

Quando expostas a estresse ou estímulos intensos — como luzes fortes, sons altos, toques inesperados ou cheiros penetrantes —, essas crianças podem apresentar respostas automáticas do sistema nervoso, que entra em estado de alerta.

A ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal e da amígdala cerebral desencadeia reações primitivas de defesa: luta, fuga ou congelamento. Isso se expressa em crises de agressividade, tentativas de escapar do ambiente ou comportamentos de imobilidade e apatia.

Em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), esses gatilhos são ainda mais intensos, pois seu cérebro interpreta estímulos cotidianos como ameaças.

Daniel J. Siegel, em O Cérebro da Criança, aponta que compreender essas reações é essencial para integrar o cérebro emocional ao racional e oferecer suporte mais adequado.


Crises são pedidos de ajuda

Crises de fuga, agressividade ou autoagressão, portanto, são expressões de sofrimento — e não sinais de desobediência. São respostas instintivas a situações que ultrapassam os limites de tolerância emocional ou sensorial.

Reagir com punições nesses momentos apenas aumenta a sensação de ameaça e reforça o medo. O caminho mais eficaz é acolher, garantir segurança e ensinar, gradativamente, novas formas de enfrentamento.

Ross W. Greene, criador da abordagem CPS (Soluções Colaborativas e Proativas), defende que “crianças se comportam bem quando conseguem” e que comportamentos desafiadores refletem déficits de habilidades, e não má vontade.

Da mesma forma, Del Prette e Del Prette destacam que esses comportamentos muitas vezes são estratégias imaturas para lidar com exigências sociais e emocionais ainda difíceis de nomear.


Escuta ativa e observação atenta

Nesse cenário, a escuta ativa e a observação atenta são ferramentas poderosas. Escutar ativamente significa acolher com empatia, sem julgamentos, buscando compreender o que a criança comunica com o corpo, as expressões faciais, os gestos e o tom de voz.

Observar atentamente permite identificar gatilhos, padrões e necessidades que a criança ainda não sabe verbalizar. Isso implica estar presente e atento a pequenas mudanças de comportamento, perceber se as crises ocorrem em momentos, locais ou interações específicas, e validar os sentimentos da criança — mesmo durante a crise.

Frases como “Você está muito brava agora. Vamos respirar juntos?” são convites à regulação emocional compartilhada.

Isabela Minatel, em Educar com Empatia, reforça que o educador que escuta genuinamente favorece o desenvolvimento da autorregulação e do senso de pertencimento.

Já Marshall Rosenberg, com a Comunicação Não-Violenta, apresenta estratégias práticas para a escuta empática e a expressão respeitosa de sentimentos e necessidades, pilares importantes para a construção de vínculos saudáveis e estratégias eficazes de apoio.


Prevenção e estrutura são essenciais

Outro eixo essencial no cuidado com crianças neurodivergentes é a prevenção por meio da antecipação e da estruturação do ambiente escolar. A previsibilidade oferece segurança e reduz a ansiedade.

Quando a criança sabe o que esperar, sente-se mais segura e é capaz de se autorregular com mais facilidade. Isso pode ser promovido com rotinas claras, uso de linguagem simples e comandos repetidos, avisos antecipados sobre mudanças (“Daqui a cinco minutos vamos guardar os brinquedos”), e o uso de recursos visuais como quadros de rotina, cronogramas ilustrados e sinalizações acessíveis.

Essas práticas promovem ordem, clareza e autonomia, além de respeitarem diferentes formas de processamento sensorial e cognitivo. São ações que beneficiam toda a comunidade escolar, pois tornam o ambiente mais acessível, acolhedor e sensível à diversidade humana.


Conclusão: a escola como espaço de cuidado

Ao compreender a neurodivergência a partir de uma perspectiva empática e funcional, a escola se fortalece como espaço de cuidado e pertencimento.

Investir na formação da equipe, promover uma escuta sensível, organizar o ambiente com recursos adequados e responder às crises com respeito e segurança são ações que não apenas previnem danos, mas que também contribuem para o florescimento de cada criança — em sua singularidade e potência.


Gina M. G. Sommerfeld | Coordenadora do Espaço Psiquismo

Psicologia Clínica e Saúde Psicossomática


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